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quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Fotografando a Música!!


                                          
                                                        JIM MARSHALL


No início de 2010 foi publicado o livro ‘Match Prints’, parceria de um dos melhores fotógrafos do mundo da música de quem já tive notícia, Jim Marshall, e do jovem e talentoso Timothy White, também fotógrafo.

O livro, com mais de 300 fotos, apresenta o trabalho dos dois amigos, lado a lado. Podemos, por exemplo, ver uma foto dos anos 60 de Marshall em preto e branco e a seu lado uma de White dos anos 90, com o mesmo artista, ou então pessoas diferentes, como John Lennon, na época dos Beatles, e seu filho Julian, atualmente, clicados em poses parecidas.
Destaque também para a capa de ‘Match Prints’, onde aparecem o líder do The Doors, Jim Morrison e o ator Robert Mitchum, ambos com um cigarro entre os dentes.


Marshall, que faleceu em março de 2010, deixou uma lacuna muito grande entre os fotógrafos musicais. Ele pertenceu à uma estirpe rara que está se extinguindo, a do profissional com feeling para situações do dia a dia dos famosos.

 Nos anos 50, ele era um conhecido freqüentador dos círculos de jazz, quando sua lente sempre atenta registrou momentos inesquecíveis de músicos como Miles Davis, John Coltrane e Thelonious Monk.

Na década de 60, passou a clicar o mundo do rock, sendo o único profissional que foi convidado para os bastidores do último show dos Beatles, no Candlestick Park, em São Francisco, no ano de 1966, quando registrou fotos históricas.
No famoso show de Johnny Cash na prisão de Folsom, ele também esteve presente, sendo o autor da clássica foto em que Cash, aparece olhando para a câmera com o dedo médio em riste.
Ele fotografou também os Rolling Stones, Bob Dylan, The Who e muitos outros famosos. Esteve em Woodstock e Monterey. Calcula-se que tenha sido responsável por mais de 500 capas de discos.

Jim Marshall sempre repetia que, “Ser fotógrafo é mais do que uma profissão, é minha própria vida.”


                                                 ANNIE LEIBOVITZ

Este ano também tive contato com outro livro muito especial de uma das melhores fotógrafas do mundo.
Publicado em 2003, ‘American Music’ de Annie Leibovitz, retrata os personagens da cena americana do blues, jazz, country, rock, folk, gospel, punk, enfim todos os gêneros imagináveis.
Leibovitz é dona de um estilo muito peculiar.
 É difícil encontrar alguém que tenha conseguido fotografar tanta gente famosa, mas ao mesmo tempo ter tido a capacidade de fazê-las parecer pessoas ‘normais’.

Este livro, evita cenas de palco, sempre procurando penetrar na intimidade dos músicos retratados. Nos bastidores, na rua, em casa, na cama, é assim que Leibovitz prefere clicar seus personagens.

Desfilam nestas páginas, não apenas os super-astros, como Bob Dylan ou Miles Davis.
Annie gosta de trabalhar com músicos quase desconhecidos, ou conhecidos apenas regionalmente, além de ter procurado artistas praticamente aposentados, como o cantor country George Jones e também negros idosos tocadores de blues, fotografados na rua, em pequenas espeluncas ou numa cabana do Mississipi.

Há fotos belíssimas de Johnny Cash já em seus últimos anos, acompanhado da filha, Rosanne Cash e dos netos.
Da geração mais nova destacam-se as fotos de Ryan Adams, Steve Earle e Beck.

A capa de ‘American Music’ é de emocionar.
 A primeira vista é apenas um toca-discos com um LP  em cima de uma mesa velha de madeira.
A explicação para esta foto vamos encontrar dentro do livro. O aparelho de som pertencia a Elvis Presley, e a mesa estava no quarto do rei. O LP, uma gravação demo, era creditado a ‘The Stamps’, que era o grupo que fazia vocais de apoio para Elvis.
A data da foto é nada menos do que 16 de agosto de 1977. Provavelmente foi o último disco que Elvis Presley ouviu antes de morrer!


Annie Leibovitz, quando trabalhava para a revista Rolling Stone, foi a última fotógrafa a fazer um ensaio com John Lennon. Infelizmente não presente neste livro.
A publicação havia pedido a Leibovitz uma foto para a capa da edição de janeiro de 1981 com Lennon.
O ex-Beatle havia lançado seu álbum ‘Double Fantasy’ em outubro de 1980, e a Rolling Stone queria explorar seu retorno as gravações.
Annie foi ao Dakota registrar as imagens no dia 08 de dezembro, poucas horas antes do assassinato de Lennon.
Era para ter sido um close somente de John, mas como o Beatle fincou pé, e o álbum havia sido um esforço conjunto de Lennon e Yoko Ono, Leibovitz acabou sendo convencida a fazer uma sessão com o casal.
Nesse momento, todo o talento e a criatividade de Annie Leibovitz veio a tona, e após vários cliques do casal, ela pediu a Yoko que deitasse na sua cama e a John que tirasse a roupa e se debruçasse sobre sua mulher. 


Impressionante o sentimento de tristeza e abandono que essa foto transmite, potencializada claro, pelo que aconteceria poucas horas depois.
Obviamente, esta foi a foto escolhida para a capa da revista, e fez história.

Annie Leibovitz segue ativa, apesar de problemas financeiros estarem atrapalhando seu trabalho nos últimos anos.
                                                
                                                       
                                                       BOB GRUEN      


Também membro deste clube seleto de talentos, é o fotógrafo norte-americano Bob Gruen. Um dos mais carismáticos e acessíveis de sua geração, Gruen publicou há pouco tempo o livro ‘Rockers’, e inclusive esteve no Brasil para uma mostra de seu trabalho.

Com um estilo mais eclético de fotografar, Bob Gruen gosta de clicar o músico no seu habitat natural, o palco. Ele também prefere trabalhar com fotos em preto e branco, que realça o foco de sua lente.
Seus artistas favoritos são os da década de 70, quando Gruen vivenciou o movimento punk no seu auge. Seus ídolos incluem os Sex Pistols, o New York Dools, The Clash, Ramones e Debbie Harry.

Um de seus melhores amigos era John Lennon, que se deixou fotografar em seu apartamento no Dakota, logo após o nascimento de seu filho Sean em 1975.
 Bob fez um ensaio antológico com John, Yoko e Sean em seu quarto, mostrando toda a intimidade do casal.


Gruen também participou do ‘lost weekend’ do ex-Beatle, fotografando-o logo após a separação do casal em 1974, com uma camiseta estampada com o nome de ‘New York City’, que ficaria famosa.
Esta foto, aliás, é uma das capas do livro. Temos também Sid Vicious, como opção de plano B de capa, lambuzando-se com um cachorro quente coberto de mostarda.

Gruen também se fez presente no retorno de John a ativa, retratando-o nos seus últimos dias de gravações, em 1980, no estúdio Record Plant em Nova Iorque.


Quem também é imortalizado nessas páginas é o performer Alice Cooper, que, entre várias outras poses surreais, é fotografado junto a Salvador Dali, fazendo um holograma de seu cérebro. 


Bob Gruen não é apenas mais um fotógrafo de rock. Ele era parte do próprio espetáculo da música. Suas fotos são a prova disso.



                                                       DAVID BAILEY


Talvez o melhor exemplo de um fotógrafo que tinha como estilo de vida o que ele mesmo fotografava, seja o inglês David Bailey,
Participante ativo da cena roqueira e da ‘swinging London’ nos anos 60, o próprio Bailey parecia um astro do rock.
Sua lente era especializada em captar nuances dos artistas em cena e fora dela. Ele também tinha um faro especial para descobrir artistas iniciantes e que mais tarde fariam história no show bizz.

Na década de 90 foi publicado no Brasil o livro ‘Os Rolling Stones e Outros Heróis’, que nos deu uma pequeníssima amostra do trabalho de Bailey.
Como o próprio nome já diz, o destaque vai todo para os Rolling Stones, clicados em pleno anos 60, ainda com Brian Jones na banda.
Retratados à cores, em contraste com a maioria dos demais rockers, os Stones ganham uma aura de deuses na ótica de Bailey, que explora como ninguém a luz natural.


Nos anos 80, David infiltrou-se nos bastidores da filmagem do longa ‘Fome de Viver’, um belo filme de terror com as participações de Catherine Deneuve, Susan Sarandon e David Bowie.
Bailey fez um bonito ensaio em preto e branco com o trio, tentando demonstrar o quão parecidos eles poderiam ficar em frente a câmera. O resultado é surpreendente. Bowie, Deneuve e Sarandon, clicados com roupas claras e com uma luminosidade ofuscante, ficam parecendo siameses.
As personagens longilíneas de Pete Townshend, clicado encharcado de suor após um show do The Who, e de Bob Geldof, nos bastidores do Live AID, também emprestam uma característica toda particular ao trabalho de Bailey.


A capa, muito original, apresenta um Mick Jagger literalmente com uma faca entre os dentes, explorando todo o fascínio que sua imagem satânica apregoava.

 A melhor foto do livro, entretanto, é de outro de seus heróis favoritos, o também stone Brian Jones.
Brian, numa foto de página inteira, aparece deitado preguiçosamente na grama, próximo a piscina de sua mansão, nos arredores de Londres.
É assustador observarmos a expressão perdida nos olhos de Brian, mirando o infinito, como se ele não fizesse mais parte deste mundo. De fato, a foto foi tirada em meados de 1969, pouco antes de sua morte.   

David Bailey abraçou tanto a causa dos anos 60 e de sua adorada Londres, que o diretor de cinema Michelangelo Antonioni, se inspirou nele para seu personagem Thomas, do cult-movie ‘Blow Up’.
O filme mostrava como deveria ser seu trabalho naquela época, e nos dava uma pista de que, no caso de Bailey, o fotografado poderia ser eclipsado pelo fotógrafo.





                                             LINDA EASTMAN McCARTNEY


Esta fotógrafa nova-iorquina foi sem dúvida um dos maiores talentos naturais que o mundo da fotografia musical, e em especial do rock, já viu.
Linda foi também uma pessoa que experimentou todo o fascínio dos anos 60.

Filha de um advogado abastado de Nova Iorque, jovem ainda, Linda saiu de casa, indo morar em um pequeno apartamento.
Casou, teve uma filha, e logo se separou. Começou a trabalhar como free-lancer para revistas, para poder manter sua filha.

Quando do início da ‘invasão britânica’ em 65, fotografou os Rolling Stones, ainda emergentes. Também os ‘Kinks’ e ‘The Hollies’, não escaparam de suas lentes.
Ela participou dos primeiros shows do grupo ‘The Doors’, enquanto ainda não tinham explodido, em 1966. Sua intuição para o sucesso era inigualável. 
Fez amizade em 1967 com Jimi Hendrix, e clicou ele e sua banda para seu segundo álbum.
Neste mesmo ano desembarca em Londres e é recebida pelo empresário dos Beatles, Brian Epstein, que fica impressionado com seu catálogo de fotos.

Brian não apenas compra duas fotos de Linda como também a convida para a festa de lançamento do disco ‘Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band’ em seu apartamento.
Linda Eastman fotografa os Beatles na festa, e logo fica atraída por Paul McCartney a quem começaria a namorar em 1968.
Tendo acesso irrestrito à banda, Linda pode explorar seu talento para instantâneos simples, porém marcantes, nas sessões de gravação do ‘White Album’.

A partir de 1969 sua prioridade passou a ser sua vida com Paul, com quem casaria em março. Linda retrataria com perfeição a vida doméstica da família McCartney.  Ela também fez fotos de várias capas de álbuns para Paul e sua banda ‘Wings’.


Paul McCartney, comentou que uma de suas técnicas consistia em conversar com a pessoa a ser fotografada e à deixar totalmente à vontade, para só então dar início às sessões. Jim Morrison chegou a achar que sua alma seria exposta ao público, quando fosse clicado por Linda.

Seu livro ‘Sixties’, publicado pouco antes de sua morte em 1998, é um documento histórico impressionante dos anos 60!
Linda dividiu o livro em duas cenas, a americana e a britânica, tendo como epílogo os Beatles, e claro, Paul McCartney.

Nos anos 80 e 90, Linda passaria a dedicar sua vida ao vegetarianismo, a combater os maus tratos aos animais e a tentar salvar nosso planeta, e isto se refletiu em suas fotos, agora voltadas para a natureza.


O legado de Linda McCartney foi o da simplicidade como fotógrafa, seu talento para saber exatamente o quanto de iluminação ela iria precisar, era notório, sem precisar recorrer a testes de luz exaustivos.
Quem a conhecia sabia que seu olho nunca falhava!.




                                                                                            

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